terça-feira, 22 de abril de 2008

O CONTO DE EMILIO parte 03.

O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

As semanas se passaram lentas e desagradáveis depois do incidente no quintal de Dioser. Emilio não falava com o amigo desde então, sempre o evitava quando o via na escola e até fingia que nunca o conhecera quando se encontravam na natação, no futebol ou na academia.
Dioser também não fazia menos que isso. Sempre levantava o nariz e estufava o peito ao passar por Emilio e voltara a ser amigo de alguns garotos a quem havia abandonado depois de ter feito amizade com ele. Angelina começou a fazer visitas diárias a Emilio em casa, sempre nos horários mais remotos e imprevisíveis, Emilio achou que ela queria encontrá-lo sozinho, para que de alguma forma, voltassem a ser amigos, ou se tornassem namorados agora que seu irmão estava fora do caminho. Emilio sempre arrumava um jeito de se esquivar da garota, e por vezes, foi grosso com ela.
Numa sexta-feira na hora do intervalo do colégio, Dioser passou pomposo em frente a Emilio com uma garota loira a tiracolo. Emilio se levantou do banquinho em que estava sentado de um salto, tamanho foi o susto ao ver a garota dar um beijo malicioso no queixo de Dioser, que esboçou um sorriso de satisfação.
Desse dia em diante, Dioser, Emilio percebeu, fazia questão de passar sempre em frente de Emilio nos intervalos e na hora de ir embora com a garota dependurada no ombro, como se ela fosse uma bolsa pesada e cabeluda, e fez questão de sussurrar um “será que eu mereço um beijo de minha namorada?” Auto o bastante para que Emilio ouvisse e espumasse de raiva. O que realmente aconteceu.
Dioser estava namorando. Namorando uma garota! E Emilio não deixaria isso barato, ele sabia qual era a intenção de Dioser ao desfilar com uma namoradinha perto dele: fazer ciúmes. E Dioser estava tendo grande êxito nessa missão. O plano inicial de Emilio de cozinhar Dioser um pouco para que ele ficasse cada vez mais apaixonado estava correndo o risco de sair pela culatra. Era Emilio que estava cozinhando e ficando cada vez mais apaixonado por um garoto que agora estava cada vez mais distante. “Uma namorada?” cuspiu Emilio encolerizado, enquanto redigia uma redação para a escola, fazendo a letra sair trêmula e ilegível.
As sextas, Emilio e Dioser tinham aulas de natação no clube, seria a ocasião perfeita para Emilio reconquistar seu amado de uma vez por todas e por fim àquela idiotice que Dioser estava fazendo. “Namorar...” Emilio chegou mais cedo ao clube, vestiu sua sunga de banho e ficou esperando Dioser no vestiário. Era ali que ele queria fisgar o garoto com uma cartada que não teria erro: dar-lhe-ia um beijo. Emilio ainda ouvia as palavras que Dioser dissera da primeira vez em que se beijaram; “Sua boca... seu corpo... jamais imaginei que um dia iria querer fazer isso!” Dioser, Emilio sabia, era louco pelo beijo seu beijo e não resistiria quando estivesse mais uma vez em contato com seus lábios, cederia à paixão e começariam, quem sabe, a namorar.
Emilio ouviu vozes do lado de fora do vestiário enquanto descalçava as meias, ele reconheceu imediatamente a voz de Dioser que dizia palavras de carinho a alguém; “O que posso fazer pra te provar que é de você que eu gosto, Alessandra? São os seus beijos que me levam ao céu! É você que eu quero!” Emilio sentiu uma fisgada no coração ao ouvir isso e, sem que ele tivesse consentimento, lagrimas perolada cascatearam por seu rosto.
Emilio saiu do vestiário como um raio e ao passar pelo casal de pombinhos, viu Dioser e a sua mais nova namoradinha bastante empenhados em um beijo. Emilio não soube distinguir quem era quem , e passou ardendo de fúria e ciúmes, batendo seu ombro no de Dioser, que lhe lançou um olhar de prazer ao ver o efeito que aquilo provocara em Emilio.
Emilio foi embora para casa na mesma hora, se jogou em sua cama e chorou durante horas: acabara de perder o amor da sua vida!

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